Ivone Patrão: ISPA-Instituto Universitário, Lisboa, Portugal; Geração Cordão, Lisboa, Portugal, APPsyCI - Applied Psychology Research Center Capabilities & Inclusion, Lisboa, Portugal; Bárbara Enes-Pinheiro: ISPA-Instituto Universitário, Lisboa, Portugal; Geração Cordão, Lisboa, Portugal; Mariana Machado: Geração Cordão, Lisboa, Portugal; Patrícia Ferreira: Geração Cordão, Lisboa, Portugal, APAV, Lisboa, Portugal; Sofia Paiva: ISPA-Instituto Universitário, Lisboa, Portugal; Geração Cordão, Lisboa, Portugal.
A internet é um recurso disponível para cada vez mais utilizadores (Patrão, Reis, Madeira, Paulino, Barandas, Sampaio, Moura, Gonçalves e Carmenates, 2016) e com a pandemia por COVID-19 a disponibilidade para estar online, quer para fins laborais, quer para entretenimento e passatempo, aumentou (Goldschmidt, 2020; Patrão, Reis, Madeira, Paulino, Barandas, Sampaio, Moura, Gonçalves e Carmenates, 2016), constatando-se que as tecnologias se tornaram ainda mais essenciais na vida de todos, sendo crescente a dependência das tecnologias (Goldschmidt, 2020).
A evolução constante das tecnologias leva ao seu uso e acesso cada vez mais precoce, incessante e frequente à internet (Moura, 2017). A literatura nesta área advoga que as crianças e jovens utilizam mais tecnologias que os adultos (Ponte, 2008). Ponte (2012) revela que as crianças portuguesas, no conjunto dos países europeus, são as que mais acedem a recursos digitais e, por seu turno revelam uma experiência tecnológica vastamente diferente das suas gerações passadas. Reconhece-se assim que as crianças e jovens de hoje em dia estão muito mais capacitadas a dominar as tecnologias em comparação muitas vezes com pais e professores que não conseguem acompanhar as inovações (Eisenstein & Estefenon, 2011). Apesar disto, as tecnologias são um dos recursos mais usados pelos pais para o entretenimento dos filhos (Vittrup, Snider, Rose & Rippy, 2016), o que expõe as crianças e jovens cada vez mais cedo e mais tempo aos ecrãs e, consequentemente a riscos para o seu desenvolvimento, que se agravam quando o acesso às tecnologias é realizado na ausência de supervisão parental, sobretudo nos mais novos (Patrão, 2019).
Os pais são fundamentais para a educação digital, mas muitas vezes não conhecem os limites a impor ou mesmo os riscos a que os filhos estão expostos na internet nem dominam as próprias tecnologias (Patrão & Fernandes, 2019). Neste sentido, é importante capacitar os pais, uma vez que, para se usufruir de todas as potencialidades do mundo online é crucial que se conheça as suas funcionalidades e ter domínio sobre as mesmas (Moura, 2017).
A mediação parental face às tecnologias, tem sido então reconhecida como fundamental tanto para a promoção de competências, literacia e autocontrolo (Mascheroni, Murru, Aristodemou & Laouris, 2013; Vitrupp et al., 2016). Ainda assim, Torres-Trindade e Moamann (2016), realizaram um estudo com crianças e jovens dos 8 aos 16 anos e com os seus pais e perceberam que na maior parte dos casos os pais desconhecem o que os seus filhos fazem online. Também no estudo de Correa, et al. (2016), se percebe que apesar de os pais considerarem as tecnologias um recurso diário disponível aos seus filhos e que requer algum controlo da sua parte, nem sempre têm acesso ao conteúdo acedido pelos mesmos. Estudos interculturais constatam mesmo que os pais portugueses são os que mais desconhecem os comportamentos online dos seus filhos (Ponte & Vieira, 2008).
Vários estudos indicam que a supervisão parental face ao comportamento online dos filhos é diminuta e que os próprios usam a internet diariamente e de forma excessiva (Patrão, 2016; Patrão et al., 2016; Patrão, Machado, Fernandes, & Leal, 2015). Há autores que apontam que esta mediação diminui ao longo desenvolvimento dos jovens (Wang, Bianchi & Raley, 2005). As principais crenças associadas a esta diminuição da supervisão parental são a conquista de maturidade emocional e de que a responsabilidade em assumir as consequências dos comportamentos está cimentada (Wang, Bianchi & Raley, 2005).
Na perspetiva dos pais os filhos mais novos estão expostos a mais riscos online, porém, o que se sabe é que são os mais velhos que exploram mais o mundo online e por consequência estão mais expostos aos riscos da internet (Ponte & Vieira, 2008).
Segundo dados do estudo Net Children Go Mobile (Simões, Ponte, Ferreira, Doretto & Azevedo, 2014) o ambiente onde mais se acede à internet é a habitação e as crianças mais novas são as que têm um acesso mais precoce às tecnologias e por conseguinte à internet. O mais preocupante é o facto de muitas vezes a internet possibilitar o distanciamento familiar dentro do próprio lar (Patrão & Fernandes, 2019). Neste sentido, equilibrar o tempo em família e o tempo online, e a consequente mediação parental é um bom ponto de partida para evitar a dependência online (Şenormancı, Şenormancı, Güçlü, & Konkan, 2014).
A comunicação e as relações são áreas fortemente afetadas pela crescente proximidade às tecnologias por parte dos mais jovens (Nowland, Necka, & Cacioppo, 2017), por isso mesmo, para colmatar as desvantagens ao nível dos relacionamentos familiares é fundamental ainda, aproveitar o conhecimento dos mais jovens para aumentar os conhecimentos dos pais, permitindo o reconhecimento da importância da tecnologia, mas também das relações familiares (Patrão & Marinho, 2018).
Apesar da dualidade mundo virtual - mundo real, o estímulo virtual supera a realidade, dominados pelo fascínio e pela facilidade, os jovens são aliciados pelo digital que lhes proporciona a falsa sensação de uma autonomia conseguida (Eisenstein & Estefenon, 2011). O brincar é preferencialmente substituído pelos smartphones, computadores, tablets (Silva, Bortolozzi & Milani, 2019). Dados de Silva, Bortolozzi e Milani (2019), indicam que a maioria dos parelhos tecnológico usados pelas crianças pertencem aos pais, sendo a que maioritariamente as crianças recorrem às tecnologias como passatempo (Radesky & Christakis, 2016). O smartphone foi considerado o aparelho tecnológico de preferência (Silva, Bortolozzi & Milani, 2019), sendo as atividades mais frequentes o jogar e assistir a vídeos multimédia (Dias e Brito, 2017; Silva, Bortolozzi & Milani, 2019).
Na literatura encontra-se alguma controvérsia face ao uso de tecnologias por parte de crianças (Burke e Marsh, 2013; Vandewater et al., 2007). Há autores que assumem como mais danoso a impossibilidade de usufruir das tecnologias do que o acesso às mesmas (Ponte & Vieira, 2008). São as crianças e os jovens da população que acedem de forma mais excessiva à internet e que, por consequência, estão mais expostos ao risco de desenvolverem dependências online (Patrão, 2019). De referir que, são inúmeras as consequências do uso excessivo das tecnologias, quer para os estilos de vida, os comportamentos, as relações interpessoais, a autonomia e até mesmo para a saúde de crianças e jovens (Eisenstein & Estefenon, 2011; Patrão, 2017).
É neste sentido que se torna tão importante avaliar a perceção parental da dependência online e do smartphone em jovens dos 12 aos 18 anos, no período do 1º confinamento social, devido à pandemia por COVID-19.
Metodologia
Tipo de estudo
Delineou-se um estudo exploratório, observacional e descritivo com base num protocolo online numa amostra independente, de forma a compreender o uso da internet em crianças e jovens portugueses com idades compreendidas entre os 3 e os 18 anos, durante a pandemia por COVID-19. Assim, procurou-se explorar a perspetiva dos pais em relação à utilização da internet e de dispositivos por parte dos seus filhos.
Participantes
A amostra é composta por 355 pais com filhos entre os 12 e os 18 anos (78,5% do sexo feminino e 21,5% do sexo masculino). A caraterização dos participantes é apresentada na Tabela 1.
Material
Foi elaborado um questionário online de autopreenchimento, especificamente adaptado para aplicação durante a fase da pandemia, com base num protocolo online do projeto Geração Cordão, previamente aprovado pela Comissão de Ética do ISPA – Instituto Universitário e pela DGESTE (Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares), em que foram solicitados os seguintes dados: 1) Dados sociodemográficos: idade, sexo, escolaridade, situação profissional, estado relacional, zona e distrito de residência, agregado familiar nomeadamente, número de filhos, idade do filho mais novo ou do único filho, sexo do filho mais novo ou do único filho, idade do filho mais velho e sexo do filho mais velho; 2) Perceção do estilo parental por parte dos pais; 3) Dados relativos ao acesso e uso da internet por parte dos pais na fase de pandemia; 4) Avaliação do bem-estar psicológico, com uma escala de Likert de 10 pontos (1 - extremamente mau) a (10 - extremamente bom); 5) Avaliação do estilo parental dos pais face à internet (IPSI – Internet Parenting Style Instrument); 6) Avaliação da perceção sobre o funcionamento familiar (FAD - 12 Family Assessement Device); 7) Dados relativos ao acesso e uso da internet por parte do filho mais velho (3-18 anos) antes da pandemia; Dados relativos à relação do filho com a internet durante a pandemia; 9) Avaliação dos comportamentos do filho em relação ao uso da internet durante a fase de pandemia (PCIAT – Parent-Child Internet Addiction Test); 10) Avaliação da perceção dos pais face ao uso do smartphone por parte do seu filho (SAS – V – Social Anxiety Scale).
Procedimento
Inicialmente foram consultadas as bases de dados PubMed, PshycINFO e Web of Science utilizando-se as palavras-chave: Internet, Tecnologias, Supervisão Parental, Comportamento Online e Pandemia por COVID-19. Assim, elaborou-se um questionário online, com o objetivo de compreender a perceção dos pais face à utilização da internet e dispositivos por parte dos seus filhos, numa amostra da população portuguesa. A recolha dos dados foi efetuada através do questionário online. Foi tido em conta o cumprimento dos princípios éticos e deontológicos como o anonimato e confidencialidade dos dados e a participação voluntária no estudo de cada participante, com o seu consentimento informado no início do formulário.
Foram então recolhidos os dados e procedeu-se à análise descritiva e inferencial dos mesmos através do software SPSS Statistics. Elaborou-se o cálculo de médias, percentagens e desvios-padrão, bem como a realização dos testes estatísticos adequados.
Foram realizados vários testes de correlações para avaliar: a idade dos pais e o controlo parental, nomeadamente a supervisão dos comportamentos dos filhos face à internet; a idade dos pais e a perceção da funcionalidade do funcionamento familiar; a idade dos pais face à sua observação na dependência dos filhos com o smartphone; o número e a idade dos filhos face à supervisão dos pais face aos comportamentos com a internet; a perceção do controlo dos pais sobre os filhos juntamente com o funcionamento familiar.
Resultados
Comportamentos Online dos Pais
Relativamente ao acesso e uso do mundo online por parte dos pais (Tabela 2), conclui-se que a maioria desta amostra tem smartphone (64%). Os pais (75%) afirmaram que usam o telemóvel entre 1 a 20 vezes por dia para enviar SMS, ligar, acesso a redes sociais, a jogos e aplicações; e que o tempo diário que passam online tanto ao fim-de-semana para lazer está no intervalo entre os 30 minutos e as 2 horas, sendo que desse tempo, aquele que é passado a socializar é entre 30 minutos a 60 minutos. Destaca-se o tempo online que é passado a trabalhar, que vai de 2 a mais de 8 horas por dia. Uma pequena percentagem dos pais (15%) afirmou utilizar a internet para jogar. Contudo, em 99% dos casos não fazem apostas a dinheiro.
No que respeita às refeições, 98% refere que são feitas em família e que durante esse período não usam dispositivos móveis (90%). E mesmo fora das refeições principais, 76% dos pais não fazem snacks enquanto estão no computador ou telemóvel.
43% usa dispositivos eletrónicos (televisão, tablet, telemóvel) imediatamente antes de dormir.
No que concerne ao aumento das competências digitais, 48% sente que isso aconteceu, 46% aderiu a novas plataformas ou redes sociais, e 26% refere que partilha conteúdo dos filhos online.
No que toca à relação com as pessoas, questionou-se os pais com que frequência não prestam atenção ou ignoram uma pessoa, durante uma conversa por estarem a utilizar o telemóvel (phubbing). Contudo, a maioria responde que isso não acontece (77%). O mesmo não acontece quando se questiona se já se sentiu ignorado por alguém. Apontam como sendo situações que acontecem por vezes (46%).
Comportamento Online dos Filhos
Relativamente ao acesso e uso do mundo online por parte dos filhos (Tabela 3), conclui-se que a maioria dos filhos desta amostra tem smartphone (64%). Os pais (72%) afirmaram que o tempo diário que permitem que os filhos passem online, durante a semana, é entre 1 a 8 horas por dia, e ao fim-de-semana de 1 a 6 horas.
No que respeita às refeições, 89% refere que os filhos durante esse período não usam dispositivos móveis. E fora das refeições principais, 22% dos pais afirma que os filhos fazem snacks enquanto estão no computador ou telemóvel.
48% dos pais afirma que os filhos têm acesso a dispositivos eletrónicos (televisão, tablet, telemóvel) durante o período da noite e que 31% os usa imediatamente antes de dormir.
Perceção dos Pais sobre o impacto da Escola Online
No que toca à escola, antes da pandemia, os pais indicam que a maioria dos filhos (44%) leva o smartphone para a escola, sendo que 31% refere que a política da escola é poderem utilizar antes do primeiro toque, nos corredores e no intervalo de almoço.
Relativamente à dimensão escolar neste tempo de pandemia, os pais indicam que a maioria dos seus filhos usufruiu de aulas online (96%), percecionando que existiu uma boa colaboração dos professores no esclarecimento de dúvidas ou dificuldades relativamente aos trabalhos que foram enviados online (90%). Contudo, quando questionados sobre o facto de sentiram os filhos mais motivados desde que têm aulas online, 36% respondeu que não.
Quando questionados se sentem os filhos mais irritados e ou mais tristes desde que têm aulas online, respetivamente 13% referem muitas vezes irritados e 5% todos os dias, e 8% muitas vezes tristes e 2% todos os dias.
Correlações – Variáveis sociodemográficas e psicossociais
Apresentam-se as correlações na Tabela 4 relativas à percepção da dependência das Tecnologias (PCIAT (internet) e SAVS (smartphone)), funcionamento familiar (FAD), supervisão parental (IPSI) e idades dos pais.
Existe uma correlação negativa e significativa entre a idade e a IPSI na dimensão controlo parental (r=-0,283), isto é, quanto mais velhos são os pais maior a dificuldade em criar estratégias de supervisão e orientação dos comportamentos relacionados com a internet.
Verificou-se uma correlação negativa e significativa entre a idade e a FAD funcionalidade (r=-0,141), ou seja, à medida que a idade dos pais aumenta a perceção de alterações no funcionamento familiar.
Existe uma correlação positiva e significativa entre a idade e a dependência do smartphone (r=0,233). Os pais mais velhos são aqueles que mais observam a dependência dos filhos em relação ao smartphone.
Verificamos também uma correlação positiva e significativa entre a IPSI controlo parental e a funcionalidade na família (FAD) (r=0,133). São os pais que têm maior controlo sobre os filhos, aqueles que têm a perceção de um melhor funcionamento familiar.
Existe uma correlação negativa e significativa entre a funcionalidade da família (FAD) e a PCIAT (r=-0,284). São os pais que têm uma elevada perceção de um melhor funcionamento familiar, aqueles que têm uma maior perceção da dependência dos filhos no uso da internet.
Discussão
Neste estudo exploratório pretendeu-se caraterizar a perspetiva parental em relação ao comportamento online dos filhos em tempos de pandemia por COVID-19.
Os dados mais relevantes deste estudo relacionam-se com a supervisão parental e o funcionamento familiar, enquanto variáveis relacionadas entre si, e relacionadas com a perceção de dependência das tecnologias pelos filhos, tanto do mundo online, como do smartphone.
É sabido, em estudos anteriores, que a disfunção familiar em si é um fator associado à dependência online e/ou ao smartphone. No estudo de validação do Family Assessement Device (FAD) numa amostra de jovens portugueses chegou-se à conclusão que quanto mais funcional é o ambiente familiar, menor é a dependência online e/ou smartphone (Patrão, Pimenta, Água, & Leal, 2020).
Um fator que parece ser explicativo é a idade dos pais, uma vez que quanto mais velhos são os pais, maior é a dificuldade em criar estratégias de supervisão e orientação dos comportamentos online dos filhos. Esta dificuldade pode estar ligada a uma baixa literacia digital. A literatura define que são os pais infoexcluídos aqueles que poderão exercer um menor controlo e supervisão sobre o uso das tecnologias (Patrão, Machado & Brito, 20016).
Este estudo reporta também alguns dados descritivos que caracterizam os comportamentos online dos pais, que no fundo servem de modelos educacionais (Patrão, 2017). Verificou-se que a maior parte dos pais possui smartphone e fez durante o 1º confinamento social uma utilização diária do mesmo, para questões laborais e para questões de lazer, sem usar durante as refeições, contudo com um uso antes de ir dormir. O estudo Net Children Go Mobile, em 2014, chegou à conclusão de que 68% dos pais portugueses utilizavam internet. Em 2010 essa percentagem era de 60%. Esta escalada indica uma dinâmica de crescimento no uso do mundo online por parte das famílias portuguesas com crianças. As diferenças no contexto europeu continuam, contudo, a fazer-se sentir. Portugal está apenas à frente da Roménia (57%) no acesso por parte dos progenitores, enquanto nos outros países essa percentagem se situa acima dos 85% (Projeto Net Children Go Mobile, 2014).
Outro dado relevante no presente estudo, é o facto da maior parte dos pais indicar que os filhos têm smartphone e que em média passam entre 1 a 8 horas por dia online. De acordo com Kim et al. (2016) os jovens que fazem uma utilização excessiva da internet e do smartphone podem vir a desenvolver comportamentos inadequados em diversos contextos. Assim, é fundamental que exista uma gestão familiar do uso saudável da tecnologia. Independentemente de estarem ou não familiarizados com as tecnologias é elementar que os pais estabeleçam as balizas necessárias para o seu uso dentro e fora de casa (Patrão, Machado & Brito, 2016).
No presente estudo, os pais reportam estratégias positivas (a maioria dos jovens não usa dispositivos móveis às refeições) e negativas (grande parte dos jovens faz uma utilização de dispositivos eletrónicos imediatamente antes de dormir). Este último dado, em tempos de escola online ou offline poderá ser um indicador de alterações do comportamento na sala de aula (presencial ou online), devido à fraca higiene do sono.
Nas variáveis relacionadas com o contexto escolar em época de pandemia, a maior parte dos pais referem que não sentiram que os filhos estivessem mais motivados desde que têm aulas online, alguns até sentem que os filhos estão mais irritados e tristes, embora tenham sentido que sempre houve um bom acompanhamento por parte dos professores. Estes resultados podem estar relacionados com o confinamento social e com o facto de sentirem falta de atividades ao ar livre e de estar com o grupo de pares. Importa realçar que não existem estudos anteriores que confirmem ou infirmem esta correlação.
Em consequência disto, os agentes educativos enfrentam atualmente novos desafios relacionados com a internet e com o mundo digital. A fim de cumprir o seu papel e promover a literacia digital, é essencial integrarem as tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem (EU KIDS, 2019).
Em estudos futuros será importante comparar as amostras de pais, filhos adolescentes, e professores, de forma a avaliar as perceções do comportamento online.
É cada vez mais importante atuar junto das crianças, jovens e dos pais, mas também com as famílias como um todo, ajudando-as a construir estratégias que permitam o controlo do uso excessivo e de comportamentos de risco online, capacitando-as a desenvolver estratégias mais eficazes de supervisão.
Referências
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